Mês: Fevereiro 2021

Fernando Rocha guardaria uma agenda de 1946, que abre com uma referência ao fim da Segunda Guerra Mundial, a que se sucederiam notas sobre atividades como aulas no liceu e no conservatório, idas aos Fenianos (bilhar, restaurante, biblioteca), ensaios e emissões do Rádio Clube Infantil, na ORSEC (Oficinas de Rádio, Som, Eletricidade e Cinema), e programa “Revista Humorística” na Ideal Rádio, o primeiro que ele começou a fazer fora do âmbito do RCI.

A estação Ideal Rádio (integrante dos Emissores do Norte Reunidos, Porto), com instalações exíguas e meios elementares, a funcionar no rés do chão, integrava-se numa pequena loja com oficina de reparações de rádio e uma cabina com dois “pick-ups” que dava para uma saleta a que pomposamente se chamava Estúdio A. No quintal, em nível superior, instalou uma antena horizontal e um emissor de 30 ou 40 watts com o indicativo CS2XE.

A rádio teve muita atividade devido ao dinamismo e voluntarismo do seu dono, Júlio Silva, e principal voz. A locução fazia-a de pé, atento aos clientes que entravam na loja e que ele via através de um espelho. Fazia sinal para que esperassem, punha um disco e tinha três minutos para atender, pelo que não dava para conduzir o programa sentado.

Júlio Silva teve ainda uma intensa atividade em favor do assistencialismo, como os leilões a favor de várias instituições (Casa do Gaiato, Lar do Comércio). A APT (Anglo-Portuguese Telephone) montava-lhe dois telefones para os ouvintes licitarem, o sistema permitia que se ouvissem mutuamente, tinha muita participação e bons resultados. Muitas vezes, essas emissões não tinham música. De voz clara, sonante, boa articulação e loquacidade, Júlio Silva atraía o auditório e conquistava a sua simpatia, às vezes objeto de críticas pelo exagero, exaltação e algumas falhas. Acompanhando o progresso criou uma rubrica a que chamou “Microgravação em Marcha” (nomeadamente os discos de 45 rotações por minuto), que anunciava quase cantando.

O programa “Revista Humorística” aconteceu em 1946 porque Avelino Simões (com quem Fernando Rocha fez a 4.ª classe na Escola da Ordem da Trindade), morava na rua Alferes Malheiro em casa pegada à da família Júlio Silva, dono da Ideal Rádio. Foi este que sugeriu a Avelino Simões fazer um programa semanal. Aceite o convite, ele convidou Fernando Rocha e Eugénio Alcoforado, tendo surgido a “Revista Humorística”. A reunião semanal de preparação era no café Palladium (inaugurado em 1940). Avelino Simões datilografava em triplicado todos os textos. Infelizmente, não ficou nenhum para a posteridade. O programa era em direto, a perder-se no ar. O mesmo aconteceu com a “Revista Feminina”, de Elisa de Carvalho.

Na Ideal Rádio, onde Fernando Rocha principiou a fazer locução de cabina e em vários géneros de programas, ele teve oportunidade de conhecer muitas pessoas ligadas ao meio como técnicos (Jorge Vilares, António Raposo e A. Sousa) e colaboradores diversos: Benjamim Melo, Domingos Parker, Elisa de Carvalho, Marta Mesquita da Câmara, João Manuel Antão, Mena Matos, João Calvário, Castro e Silva, José Quelhas, os irmãos Paixão (guitarra, viola), os irmãos Vinhas ( piano e acordeão), Óscar Serra, Ferreira da Cunha, Lisete Fernanda, Alberto Caldeira, Maria Alexandrina e Mário Taborda (produtor/realizador do programa semanal “Revista do Mundo”, em direto). Na sua agenda, Fernando Rocha registou o dia em que fez a primeira locução. Curiosas as referências a participação em diálogos e teatro radiofónico, coordenados por Marta Mesquita da Câmara, poetisa e redatora do jornal “O Primeiro de Janeiro”.

Tudo memórias de gente de uma geração cultural que tornou muito popular a audição radiofónica na região do Porto.

Imagens:Grupo na Foz do Douro (fim da década de 1940): 1- Avelino Azevedo, 2- Mário Rocha, 3- Fernando Rocha, 4 – Mário Taborda

Eugénio Alcoforado em reportagem na Fórmula 1 (corrida no Porto)

Agenda pessoal de Fernando Rocha (1946)

Folhetim radiofónico de Rádio Clube do Norte

Para mim, Rádio Clube de Angola, em Luanda, foi a primeira estação angolana, com ensaios em 1937 e inauguração em 1938 (há historiadores que falam numa primeira experiência em Benguela em 1931, mas eu tenho dúvidas heurísticas).Uma memória de Rádio Clube de Angola (julho de 1955) fala da compra dos primeiros discos e das primeiras impressões dos ouvintes, ainda dentro dos muros da cidade. O primeiro emissor tinha cem watts de potência. Os estúdios ocupavam duas pequenas salas na sede do Clube dos Rádio-Telégrafo-Postais, passando depois para pavilhão construído em exposição-feira aquando de visita do presidente da República, Óscar Carmona. Numa fotografia que junto aqui já se vê uma sede condigna da estação.

Imagens: locutor José Amado, junto à sede da estação e ao carro sonoro (1941); arquivo PT-TT-AOS-D-N-2-23-1 (consola Gates para transmissão simultânea de dois programas, emissores de 1000 e 400 watts, folha de programação).

Mensagem dedicada a Júlio Coutinho Antunes (https://www.facebook.com/julio.coutinhoantunes), a quem desejo uma rápida e completa recuperação.

1. Rádio Clube Português (obrigado a José Carlos Carrilho)
2. Rádio Ribatejo (1971), com a particularidade de, como emissor de ondas médias que parcialmente se vê do lado direito, ter sido feita e montada pelo capitão Jaime Varela Santos. Locutor Francisco Robalo (gentileza de Armando Pires). O microfone é Sennheiser MD-421
3. Rádio Universidade (gentileza de Manuel Morgado).

Na fundação de Rádio Clube do Huambo (1943) esteve um grupo formado por Abel Lara, dr. Paulo José de Castro, dr. Eurico de Carvalho, Augusto de Sousa Machado, César Augusto Borges e Serafim Alves Monteiro. Abel Lara tinha uma loja comercial no Huambo (avenida 5 de outubro). Antes, ele e a sua família foram donos da fazenda Aurora. Homem já perto dos setenta anos de idade, apoiaria Norton de Matos à presidência da República.

Rádio Clube do Huambo admitiu em 1949 Fernando Curado Ribeiro e Joana Campina Miguel, radialistas com uma posição política vincada face ao Estado Novo. Sebastião Coelho Ferreira foi, certamente, o radialista mais conhecido da estação, com o programa “Cruzeiro do Sul”, tendo passado depois para a Rádio Ecclesia, com o programa bandeira “Café da Noite”.

Fotografias: arquivo PT/TT/AOS/D/N/2/23/1. Publicidade ao programa: Notícia, 1 de janeiro de 1964; anúncio de data não identificada

Diário Popular, 25 de fevereiro de 1971

Entre a modernidade tecnológica e a tradição musical.

Rádio Clube de Moçâmedes, Angola, começou a emitir em novembro de 1945, inicialmente em instalações do sindicato dos Empregados do Comércio. Programa mais popular: “Ofertas Musicais”, de discos pedidos, que rendiam bastante à estação (cinco escudos por sócio e 20 escudos por não sócio).

Imagens do arquivo PT-TT-AOS-D-N-2-23-1, com programa de 13 de março de 1954, sob a direção do chefe de produção Carlos Moutinho; Ana Liberato e Rui Torres; Orlando Salvador, José Roberto e Adriano Parreira (foto Salvador, a partir do blogue Namibe já foi Mossamedes).

As imagens referem-se a Rádio Clube Português entre 1935 e 1938 (arquivo digital da Torre do Tombo, com marca de água do Centro Português de Fotografia).

O primeiro grupo de imagens anda à volta do incêndio nas instalações em 14 de setembro de 1935, que ocasionou uma visita rara de Salazar à estação. Numa fotografia, o ministro do Comércio, engenheiro Sebastião Ramires, e a esposa, acompanhados por Jorge Botelho Moniz, inteiram-se dos estragos. Logo, se formou uma comissão de apoio à estação, incluindo o general Carmona. A quarta fotografia é a da assistência a espetáculo a favor de Rádio Clube Português no São Luís.

A Guerra Civil de Espanha levou a estação a colocar-se ao lado das tropas de Franco. Por isso, o grupo anarquista de Emídio Santana fez, a 20 de janeiro de 1937, explodir uma bomba no edifício da Parede. A rádio concitou apoios, rapidamente reconstruiu o danificado e ganhou força o arranque de nova campanha de propaganda anticomunista. Daí, entre muitas ações de propaganda, D. Jesús Suevos, chefe da Falange espanhola, falar ao microfone da estação em 1938.

A primeira fotografia mostra a dimensão do edificado da rádio, na altura do incêndio dos estúdios, e o terreno envolvente. Ainda não eram visíveis os campos de ténis da rádio.

Adriano Correia de Oliveira e José Nisa no programa 1-8-0 (Emissores Associados de Lisboa) (Diário Popular, 8 de fevereiro de 1971). O cantor tinha editado recentemente um disco na etiqueta Orfeu, de Arnaldo Trindade.

Carmen Dolores (1924-2021) revelar-se-ia, aos 14 anos, no microfone da Rádio Sonora, do senhor Lacombe Neves, a funcionar na rua Morais Soares, em Lisboa.Nas suas memórias, publicadas em 1984, ela recordou assim: “os postos de amadores pediam colaboração. Qualquer pessoa podia apresentar o seu programa e tentar a sorte como intérprete, cantando, tocando, declamando, representando”. O seu irmão apresentara um projeto de recital quinzenal, com números de canto, recitação, piano e pequenos diálogos. Ele tinha uma boa voz de tenor, a sua mulher tocava solos de música clássica ao piano, a futura grande atriz “recitava versos aprendidos na Seleta”. E os três interpretavam diálogos.

Na rádio daquele tempo, havia ainda “os concursos, o ir a correr ao telefone para ser o primeiro a responder, penso que o único prémio era dizer os nossos nomes, o que já era uma honra! Ao domingo, a grande emoção: as emissões infantis do Tic-Tac e do Senhor Doutor, os dois jornais infantis em voga. O tio Luís, o Castelo, o Cosme, o Jorge Alves, a Mimi Extremadouro, a Milu”.

Imagem: Carmen Dolores e Jaime Santos e o teatro radiofónico (Flama, 16 de maio de 1958).

Faz em julho próximo dez anos que faleceu António Jorge Branco (1937-2011). Peço aos radialistas que o conheceram para acrescentar ou corrigir algo do que aqui escrevo.

António Jorge Branco foi jornalista e formador de rádio, definido como homem de construção e mestre do seu ofício. Ele fora amador de rádio ao fazer programas numa das estações dos Emissores do Norte Reunidos (Porto), antes de ir para Angola como engenheiro civil, onde fez estradas. Ele podia deslocar-se, por exemplo, do Lobito para Luanda para fazer um programa de rádio, a sua paixão. Como o irmão José Mário Branco, músico, se exilou em França, ele temeu pela sua segurança e também foi para França. Em França, nunca fez mas ouvia rádio.

Dele, conta-se a história mítica de, logo depois de 25 de abril de 1974, montar uma mota e viajar diretamente de Paris para Lisboa e anunciar-se nas redações das rádios: “cheguei”. Entraria na Emissora Nacional e mudou logo os noticiários, abandonando a hierarquia rotineira de informação – presidente da República, presidente do conselho de ministros, ministro. Depois dessa data, o noticiário poderia abrir com uma greve, ou o operário a falar da greve, possivelmente a notícia mais importante. Dotado de grande capacidade de trabalho e enorme capacidade de síntese, António Jorge Branco produzia a informação como era feita em França. No final de 1975, era responsável da redação do jornal da manhã (António Pais à tarde e Eduardo Paz Ferreira à noite). Chegou a subdiretor de informação da RDP, na altura em que surgiam as designações de Antena 1, Antena 2, Rádio Comercial e Rádio Comercial FM. Adquiriu o título de jornalista ao serviço da Radiodifusão Portuguesa (RDP) em 1978. Um colega diria dele ser capaz de se escalar a si próprio para fazer madrugadas quando não havia gente na redação.

Em março de 1981, quando o programa eleitoral do novo governo apresentou a proposta de reprivatizar a rádio, seria criada a TSF – Cooperativa de Profissionais de Rádio, constituída por Adelino Gomes, Albertino Antunes, António Jorge Branco, António Rego, Armando Pires, David Borges, Duarte Soares, Emídio Rangel, Fernando Alves, Jaime Fernandes, Joaquim Furtado, João Canedo, José Videira, Mário Pereira e Teresa Moutinho. Na rádio que emitia noticiários de meia em meia hora, ele foi responsável por vários programas, incluindo Dicionário da Rádio, Lendas e Calendas e Portugal Passado (série de teatro radiofónico que recriava os episódios mais marcantes da História portuguesa). Muitas destas deliciosas rubricas – a estudar com rigor – estão guardadas no arquivo da TSF.

Por exemplo, Lendas e Calendas eram histórias curtas, baseadas no espólio das lendas portuguesas, ligadas ou não a factos históricos. A conceção, narração e realização pertenciam-lhe e a montagem e misturas digitais de Luís Borges, passando na antena da TSF entre outubro de 2006 e junho de 2007. Anos antes, dera paixão a Dicionário da Rádio. Recordo, a título de exemplo, a rubrica Água na Rádio, onde, após se referir a Watermusic de Hendel, mostrou exemplos de azares em direto como uma música dedicada a ouvintes carecas ou a sinfonia de Beethoven ter quatro andamentos – primeiro, segundo, terceiro, quarto.

O radialista foi também presidente do Conselho Deontológico do Sindicato de Jornalistas. Quem o conheceu disse ser ainda um fazedor de felicidade, embora de feitio complicado. Por vezes, sentava-se a tocar num piano de bar na Ribeira portuense as canções dos grandes festivais da canção, em ambiente de tertúlia extraordinária. António Jorge Branco tinha um 2 CV vermelho que usava para atravessar o Marão (dava formação em Vila Real). Uma outra marca seria a boquilha para o seu cigarro.

Pioneiro da formação em rádio, ele integrou o núcleo de monitores dos cursos de aperfeiçoamento da RDP em 1977 (ainda antes do francês Édouard Guibert, que atualizaria a cultura da rádio em 1979), foi formador do Centro de Formação de Jornalistas (CFJ, Porto, 1983), e do Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (Cenjor, Lisboa, 1986).

Deixo aqui duas memórias da sua atividade de formador. Uma, por Adriana Freire Nogueira, de um curso lecionado por ele em 1984, com duração de três aulas semanais, cada uma com 90 minutos, durante seis semanas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Sensibilização à Linguagem Radiofónica e ao Jornalismo de Rádio, em final de 1984 [imagens desse curso, agradecendo a Adriana Freire Nogueira]. Nele, e entre outras coisas, ele falava da linguagem oral, ética, deontologia e credibilidade, grelhas de informação, síntese, hierarquização das notícias, guião de emissão, fontes de informação, conferências de imprensa e entrevista. Na segunda fase do curso, ele constituía pequenas equipas redatoriais (o rádio-simulador) para recolha de elementos de reportagem e arranjo para as grelhas de programas.

No começo da década de 1990, António Jorge Branco foi professor de radiojornalismo na Escola Superior de Jornalismo. A primeira matéria que lecionava era a revista de imprensa. Recordaria um antigo aluno: “Vocês espalham os jornais sobre a mesa, depois sobem no helicóptero e começam a pairar sobre as primeiras páginas; recolhem os destaques, as notícias comuns e tentam apanhar mais algumas que saltem à vista. Depois pousam o helicóptero e fazem a revista de imprensa” (https:// meiosdeproducao.blogspot.com /2011/07/antonio-jorge-branco-1937-2011.html). Ele não admitia atrasos na entrada da aula no estúdio, marcando até falta. Cada aluno obrigava-se a ouvir um noticiário, debater e, depois, partir dos jornais ou da matéria noticiosa registada, fazer o seu próprio noticiário, procurando um discurso natural, coerente, redondo, coloquial e pausado, de forma a dar ênfase a determinado facto ou matéria, quando se justificasse, mas sempre dirigido ao ouvinte. Muitas vezes, enquanto os alunos preparavam as notícias, ele telefonava para a redação da TSF em Lisboa a criticar ou elogiar o jornalista que lera as notícias.

Tirado diretamente de Eça o Gato [António Gomes de Almeida] (e imagens do próprio que eu copiei há alguns anos).

António Gomes de Almeida, já com uns bonitos 88 anos, começou como funcionário público a trabalhar numa Repartição do Ministério da Justiça, que funcionava dentro da Penitenciária da Lisboa, onde conheceu figuras interessantes, entre as quais o capitão Henrique Galvão (mais tarde assaltante do paquete Santa Maria) e o espanhol Vicente Maestre Y Amat, inventor da gasolina sintética. Foi vendedor de máquinas registadoras na Regisconta, evoluindo rapidamente para as funções de publicitário dessa empresa, para a qual criou todas as suas grandes campanhas de publicidade, incluindo anúncios de imprensa, rádio e televisão, com figuras míticas, que ficaram famosas e ainda são recordadas, como o “Homem da Regisconta” e o slogan “aquela máquina!”. Criou e dirigiu o Magazine Regisconta e outros jornais de empresas associadas.

Saiu temporariamente destas funções, para se associar, durante mais de oito anos, aos Parodiantes de Lisboa, criando, como copywriter, muitos milhares de textos para diversos programas para a rádio, como “Graça com Todos”, “Vira o Disco”, “Teatro Trágico”. Dirigiu simultaneamente o semanário de humor “Parada da Paródia”. Participou ainda no projeto de uma “Casa do Humor”, que esteve para ser instalada em Lisboa, mas que não se concretizou.

Foi diretor ou chefe de redação de vários jornais e revistas de humor como “O Mundo Ri”, “Picapau”, “Bomba H”, “O Cágado”, “O Macaco”. Foi autor de crónicas para jornais e revistas. Escreveu livros de vários estilos, dos quais se destacam “Os Maias – Uma análise ilustrada”, “História Alegre de Portugal”, “Como era antes de haver”, “Super-Heróis da História de Portugal”, “O País dos Cágados”, “Abecedário dos Inventos”, “Manuel da Fonseca e a sua gente”, “História e histórias de Santiago do Cacém”, e outros mais ligeiros, como o “Manual da Má-Língua”, “Os Salazarentos”, “À roda do tacho”, “O petisco em Portugal”, “Nabos na cozinha”, “Os Descobrimentos a passo de cágado”, e ainda outros, assumidamente humorísticos, como “Aventuras de Jack-Taxas e Caralinda”, “Patilhas e Ventoinha” ou “Ensaio sobre o Cu”.

De uma nota-comentário de Gomes Almeida (Eça O Gato), retiro o seguinte:

Estúdio dos Parodiantes de Lisboa, no 13º andar de prédio da avenida dos Estados Unidos, a cruzar com a avenida de Roma, onde se gravavam os muitos programas da equipa de humoristas. A construção do estúdio deveu-se a Gomes de Almeida, tarefa para a qual teve de adquirir conhecimentos técnicos. Aí Fernando de Almeida fazia a sonorização e João Capela tratava da gravação das bobinas.

Imagem – sentado: Fernando Almeida (sonorizador); de pé e da esquerda para a direita: Rui Andrade, José Andrade, António Gomes de Almeida e João Capela (técnico de gravação e voz do “Compadre Alentejano”).

Sei que o recorte do Diário Popular (18 de junho de 1948) não tem a melhor qualidade, mas ele dá conta da expansão de Rádio Clube de Moçambique naquela época. Mais emissões, um palácio da rádio a construir-se (o que se efetivou) e receitas publicitárias de fazerem inveja. Dica para compreender o sucesso da rádio de Lourenço Marques – a vizinhança da África do Sul e das duas Rodésias de então, atuais Zâmbia e Zimbabwe, para onde emitia com um canal apenas em inglês e afrinkander.

Obrigado, pelo envio do recorte, a Gonçalo Pereira Rosa, que publica esta semana uma história de Francisco José em desafio direto na RTP (Expresso).

Na década de 1970, até 1974, existiam grupos de escuta de programas de rádio, com jovens que se juntavam para os ouvir. O grupo tinha um nome e o locutor de vez em quando fazia referência ao grupo (memória de Manuel Morgado, a quem agradeço).

A revista O Tripeiro, número de dezembro de 2020, traz um artigo sobre a menina da rádio Ana Maria, nome artístico de Maria Luísa Nogueira da Rocha (1925-2010). Começou aos 16 anos em Ideal Rádio e, dois anos depois, estreava no Emissor Regional Norte (Emissora Nacional), acompanhada pelo conjunto de Resende Dias. Ela atuou nos programas Philco, na primeira destas estações, aos domingos de manhã, sempre em direto, e em espetáculos em que Fernando Rocha foi locutor.

No Porto, gravou os primeiros discos de 78 rpm, mas foi em Lisboa que desenvolveu a sua atividade artística. Muitos dos seus discos foram gravados com o conjunto de Shegundo Galarza. “A Minha Vida és Tu”, gravado em 1968, é um dos discos mais marcantes na sua vida. Outros seriam “O Meu Primeiro Amor”, “Calunga”, “Menino de Braçanã” e o “Nono Mandamento”. Um momento de grande polémica foi quando a artista, cega quase de nascença, disse que “A Desfolhada”, canção ganha por Simone de Oliveira no festival da Canção, era um plágio de uma obra sua. Ainda na década de 1940, a sua voz ouviu-se num teatro radiofónico a cargo de Paulo Pombo. Na década de 1960, entrou no concurso Rainha da Rádio, promovido pela revista Flama.

O trabalho resulta de uma síntese a partir de um volume “Caderno de Espinho”, projeto de Armando Bouçon, Luís Costa, Mário Augusto e Pedro Pinheiro. Obrigado a Joaquim Armindo Almeida por me ter chamado a atenção para o artigo.