5. Outras rádios: Rádio Clube do Moxico, Rádio Diamang, Voz de Angola [a partir do meu livro A Rádio Colonial em Angola, 2020]
Rádio Clube do Moxico foi criado em 1953, a emitir com um pequeno emissor amador pertença de Adelino Santos. Só em 1959 adquiriu um emissor de 1 kW. Depois muito conhecido na rádio nacional, como radialista ligado ao desporto (Rádio Renascença) e deputado, António Ribeiro Cristóvão começou nessa pequena rádio do leste de Angola, em Luena (antiga Vila Luso), em 1958, com 19 anos, a par da atividade numa repartição pública na cidade. Para entrar na rádio fez provas de voz. No serviço militar, Ribeiro Cristóvão ficou colocado na Escola de Aplicação Militar de Angola, em Nova Lisboa, onde permaneceu quatro anos. Ele colaboraria com Rádio Clube do Huambo, tendo-se profissionalizado ali enquanto ingressava na cervejeira Cuca. Artur Arriscado foi outro nome famoso a passar pela rádio da Luena.
A Rádio Diamang era uma estação privada sem necessidade económica da publicidade, pois era propriedade da companhia de diamantes. A rádio emitia do Dundo, cidade moderna construída na década de 1920. Iniciada ainda em 1946 com três emissores de ondas curtas (500, 400 e 100 W), destinava-se a empregados e familiares, mas também ao país todo, ultrapassando até a fronteira. A funcionar numa região rica de cultura musical e artística, o que levou à criação de um museu, a rádio do Dundo gravou em disco e fita magnética um elevado repertório de canções da etnia chokwé (quioca) e levou-a até outras rádios, em programas previamente gravados. Registo que o património musical foi preservado e está à guarda da Universidade de Coimbra, enquanto o museu tem sido alvo de melhorias muito recentes, de modo a recuperar o brilho de outrora.
1968 marcaria a sexta etapa na minha história da rádio em Angola, quando a rádio Voz de Angola, a terceira estação aqui representada, iniciou funções, estação voltada finalmente para a população africana, associando propaganda contra os movimentos de libertação e música angolana. A locução foi entregue a vozes africanas e a estação começou a gravar música negra, seguindo roteiros de cantores e grupos musicais revelados em espetáculos nos musseques. Junto à Emissora Oficial de Angola, com partilha de instalações e equipamentos, mas com estrutura organizativa autónoma, a rádio Voz de Angola era controlada pela polícia política e pela quinta divisão das forças armadas, a significar uma orientação ideológica precisa. O objetivo preciso foi combater as emissões radiofónicas do MPLA.
[continua]
(imagens: António Ribeiro Cristóvão; António Manuel Pinheiro, Rádio Clube do Moxico; Artur Arriscado; António Rocha, Rádio Clube de Malanje; Rádio Clube do Lobito) (algumas imagens foram retiradas diretamente da internet, incluindo a de Ribeiro Cristóvão, em artigo no Observador)
OpenEdition sugere que esta publicação seja citada da seguinte forma:
Rogério Santos (22 de Janeiro de 2021). Rádio em África (16). HISTÓRIA DA RÁDIO EM PORTUGAL. Recuperado em 24 de Janeiro de 2025 de https://doi.org/10.58079/t7rr
Exmº Professor
Rogério Santos
A distância, no tempo, não me ajuda a encontrar a resposta que procuro.
Entre Dezembro de 1965 a Janeiro de 1968, período em que permaneci no norte de Angola como militar, era vulgar a soldadesca recorrer às estações de rádio sediadas em Luanda no sentido de, através delas, dedicar música a familiares, camaradas e amigos. Era uma maneira diferente de comunicar, de tentar amenizar a vida que, das mais diversas formas, tinha de enfrentar no dia a dia. Eu próprio vali-me desse processo quando, em 1966, estive internado no Hospital Militar de Luanda. Presumo que isso acontecia em programas do género “Discos Pedidos”.
Pergunto: Quais as rádios sediadas em Luanda que nesse período transmitiam esses programas?
Peço desculpa por esta impertinência e agradeço a sua ajuda pela qual fico muito grato. Caso não seja possível, do mesmo modo agradeço.
Boa tarde Prof. Rogério,
Antes demais, queria felicitá-lo pelo colossal trabalho de pesquisa neste seu blogue, é bastante elucidativo.
O meu nome é Rafael Afonso e trabalho para uma produtora de cinema e televisão chamada Ukbar Filmes. Neste momento estou a fazer uma pesquisa para um projecto acerca das rádios revolucionárias / piratas nos anos 40 (mais especificamente, uma rádio que se conseguisse ouvir em Alcobaça, em 1943). Tem conhecimento acerca de alguma rádio clandestina (que possivelmente ainda se conseguisse ouvir em Alcobaça)?
Tenho conhecimento da BBC e da intervenção do Fernando Pessa, bem como de algumas outras mais pequenas que não sei se ainda existiam em ’43 e se eventualmente teriam alcance até Alcobaça (como a Invicta Rádio, ou a Rádio Graça), mas não sei se qualquer uma destas seria considerada “clandestina”.
Muito obrigado pela atenção. Fico a aguardar ansiosamente por uma resposta.
Caro Rafael Afonso,
Eu não conheço as cartas de irradiação das ondas das várias estações de rádio a emitir na altura, mas, apesar do maciço da serra dos Candeeiros, creio que as várias emissões chegavam a Alcobaça a partir de Lisboa, até pela proximidade marítima, onde a propagação é mais fácil. Assim, em 1943 seriam ouvidas a Emissora Nacional (ou a emissão do Porto, dado haver ali antena de emissão), Rádio Clube Português, Rádio Renascença e Emissores Associados de Lisboa (constituídos pelas rádios Graça, Peninsular, Voz de Lisboa e Clube Radiofónico de Portugal). Por vezes, algumas destas emissões chegariam com ruído, em especial à noite, por interferências de rádios internacionais. Há o testemunho de um grande radialista – Armando Marques Ferreira – a viver a juventude em Alfeizeirão, logo Alcobaça, que escutava, em grupo, emissões noturnas, isto em meados da década de 1930.
Na minha leitura, não se deve usar o nome de rádios clandestinas nessa época. Primeiro, porque em Portugal seria impossível, dado o rastreio diário de emissões pelo regime de Salazar. Depois, fora estimulado a escuta de várias rádios internacionais ao longo dos anos, pelos programas como música clássica. Por altura da Segunda Guerra Mundial, a Portugal chegavam diariamente emissões em português da BBC e das rádios estatais da Alemanha e da Itália, a fazerem propaganda das suas posições bélicas. A mais escutada era a BBC, pela qualidade da informação e maior isenção, além da popularidade dos seus locutores. Fernando Pessa e António Pedro (pintor e depois homem do teatro) eram dois deles. Presumo que a União Soviética também emitisse já em português (mas não tenho a certeza disto, antes do final da guerra em 1945). As autoridades portuguesas podiam gostar ou não destas emissões, mas tinham poucas possibilidades de as eliminar tecnicamente.
As rádios internacionais chegavam de certeza a Alcobaça, como atingiam igualmente todo o país, porque eram emissões em ondas curtas, destinadas a cobrir distâncias até milhares de quilómetros e dotadas de maior potência de emissão.
Muito obrigado pela resposta rápida e pela ajuda, Prof. Rogério. A informação é muito útil! Votos de continuação do bom trabalho.
Com os melhores cumprimentos,
Rafael Afonso