José do Carmo Francisco, jornalista, escritor e poeta, o poema seguinte. Trata-se de uma bela memória da rádio, a dar conta da importância do meio no conhecimento e na cultura individual. O poema foi uma bela prenda do Natal de 2018 que eu recebi (a partir da memória despertada pelo meu livro As Vozes da Rádio, 1924-1939). Obrigado.
“Memória justificativa para Rogério Santos”
Não bastava o tenebroso sistema cultural
Onde o morto fala, onde o cantor não canta
O juiz está na TV, o anjo da morte é mulher.
Logo havia de se perder entre estante e parede
Este livro de 2005 sobre «As vozes da Rádio»
De 1924 a 1939, ao todo 16 anos de cultura.
Logo eu com uma infância a caber numa telefonia
Seja Phillips, Grundig, Telefunken ou Schaub Lorenz
Sempre com um copo de água por causa dos fiscais.
Lá por 1957 no Montijo discos pedidos dos doentinhos
«Sala seis serviço dois cama quatro» dizia o postal CTT
E tudo acabava ao som da Grande Marcha Escocesa.
Em 1966 eu via o D. João da Câmara a descer a rua
Devagar com o seu sobretudo verde por causa do frio
A caminho da Rua do Salitre, do Pátio das Comédias.
Agora já não acordo com a voz do Senhor Messias
Algures entre Quadrazais e Penamacor a voz continua
Sempre: «Candeeiros bem bonitos modernos originais».
OpenEdition sugere que esta publicação seja citada da seguinte forma:
Rogério Santos (25 de Março de 2019). Poema de José do Carmo Francisco. HISTÓRIA DA RÁDIO EM PORTUGAL. Recuperado em 12 de Outubro de 2024 de https://doi.org/10.58079/t7hi